Ciberespaço: Vício ou Dependência ?

Todas as noites milhões de pessoas sentam-se em frente ao seu computador em qualquer lugar e em qualquer parte do mundo para navegar, fazer amigos em uma rede-social ou verificar se receberam alguma mensagem em seu e-mail. Poucos imaginam que aquilo que se transformou hoje em uma febre mundial, nasceu durante a Guerra Fria, a partir da necessidade de interligar vários computadores para trocar mensagens secretas, entre governos, (PINHEIRO, 2002).
De acordo com Pinheiro (2002), a primeira rede de computadores interligados, nasceu originalmente nos estados Unidos, ela interligava vários laboratórios de pesquisas e se chamava (ARPAnet Advanced Research Projects Agency), era uma rede do departamento de defesa norte-americano, e surgiu no auge da guerra fria (era o nome dado a disputa entre EUA e a União Soviética). O nome internet surgiu bem mais tarde, foi quando a tecnologia da ARPAnet passou a ser usada para conectar universidades e laboratórios, primeiro nos EUA e depois em outros países. Dai até chegar à internet como conhecemos nos dia de hoje, foi preciso percorrer um longo caminho, que passou pela criação de redes locais. Em 1971, por exemplo, existiam apenas 15 instituições ligadas entre si, o correio eletrônico surgiu apenas em finais de 1972, graças a Ray Tomlinson, da Bolt, Beranek e Newman, a empresa que inventou o modem. Em 1987, surgiu o primeiro fornecedor de serviços Internet com carácter mundial.
Segundo Tait (2007), a internet transformou-se ao longo dos anos, em um dos meios tecnológicos mais disseminados mundialmente. Apesar dos desníveis de renda entre países e pessoas, o acesso à internet tem se tornado, cada vez mais, uma necessidade e uma preocupação das pessoas que desejam se inserir globalmente. Ela é vista como uma rede de redes; uma comunidade de pessoas que usam e desenvolvem essas redes; uma coleção de recursos que podem ser alcançados através destas redes. Conhecemos hoje em dia um novo espaço de leitura e escrita, as letras concretas e palpáveis transformaram-se em bytes digitais; a página em branco é o campo do monitor; a caneta é o teclado. Há agora uma estranha separação entre o nosso corpo (real) e o texto (virtual).
Até que seja impresso (atualizado), o texto pode ficar indefinidamente nessa virtualidade. É um novo modo de lidar com a escrita, característico de um momento que alguns denominam pós-moderno e outros cibercultura, esse novo mundo é definido como ciberespaço. Esse novo mundo virtual não é o oposto do real, a diferença é que, no espaço dos fluxos (o ciberespaço), acontece uma desmaterialização das relações sociais conectadas em rede. O que antes era concreto e material adquire agora uma dimensão imaterial na forma de impulsos eletrônicos. (RAMAL, 2002 apud MONTEIRO, 2007). De acordo com Cardoso (1997), ao mergulhar no ambiente do ciberespaço, o usuário experimenta uma sensação de “abolição do espaço” e circula em um território virtual, transnacional, desterritorializado, no qual as referências do lugar e caminhos que ele percorre para se deslocar de qualquer ponto a outro se modificam substancialmente, ou até mesmo chegam a desaparecer.
Já para Monteiro (2004), o ciberespaço é uma grande máquina abstrata, semiótica e social onde se realizam não somente trocas simbólicas, mas transações econômicas, comerciais, novas práticas de comunicação, relações sociais, afetivas e, sobretudo novos agenciamentos cognitivos. Para os autores Recuero (2006) e Bosse (2011), ela é uma rede social precisa de dois elementos para se definir elementos esses que são chamados de atores, que podem ser pessoas, grupos ou instituições. E as conexões que são as ligações ou laços estabelecidos entre os atores. Só faz parte de uma rede, se existir uma conexão, ligação, com outros indivíduos. As redes sociais não se limitam a apenas comunicação entre amigos, família, mas também no campo econômico, como o networking.
Grandes empresas veem as redes sociais como grandes capitais sociais, investindo em marketing para negociação de produtos e serviços, além dos relacionamentos estabelecidos com os consumidores em potencial. No âmbito cultural, as redes sociais podem e são utilizadas como instrumentos de comunicação para a mobilização de movimentos sociais e culturais. Na área da educação, percebe-se um futuro promissor na participação de redes sociais para debates e argumentação como uma nova forma de ensino. O acesso a esses tipos de redes cresce diariamente, proporcionalmente ao número pessoas com acesso e conectadas à internet, e o uso das redes sociais começa a fazer parte do cotidiano da população, caracterizando as mesmas como nova forma de relação no mundo pós-moderno. (MACHADO, 2005 e AGUIAR, 2007 apud BOSSO, 2011). As redes sociais virtuais no Brasil entraram num crescimento exponencial desde a criação do Orkut, e ao mesmo tempo em que favorecem os relacionamentos, como aproximar amigos distantes, desfavorece, pois as pessoas perdem muito tempo em frente ao computador em vez de estar em festas e outras ocasiões interagindo pessoalmente com outros indivíduos.
De acordo com Schelp (2009), aproximadamente 29 milhões de brasileiros possuem cadastro em algum tipo de ferramenta de rede social, isso significa oito em cada dez usuários da internet. Muitos psicólogos dizem que estas ferramentas trazem prejuízos para a vida social do indivíduo, pois tudo acaba se tonando muito virtual e não supre as necessidades afetivas humanas. Primeiramente os brasileiros “avançaram” sobre o Orkut, mas com a chegada do Facebook, a atitude foi a mesma em escalas bem maiores, todas as pessoas neste meio dedicam um de cada quatro minutos conectados para atualizar seus perfis e bisbilhotar o de seus amigos.
Até pouco tempo atrás a internet só aparecia na literatura médica por causa da Síndrome do Túnel do Carpo, uma inflamação causada pelo excesso de digitação. Recentemente, porem começou a aparecer no termo “dependência” num contexto diagnosticável. Um sistema de comunicação que esta revolucionando os negócios, ampliando o provimento de informação e colocando em contato as pessoas dos quatros cantos do planeta, possa ser associado a uma patologia. Não existe na comunidade cientifica um consenso em relação à dependência da internet. (PIAZZI et al 2002 apud MORAES et al 2004).
Segundo Moraes (2004), o conceito de dependência só passou a ser considerado como uma doença no século XIX. O uso exagerado do álcool, por exemplo, não estava associado a uma perda de controle, a um desejo compulsivo de seu uso ou mesmo como desvio patológico, mas como uma opção do individuo. Somente no século passado que a dependência passou a ser associada a um transtorno da mente, adicionou-se a este conceito de dependência, a presença de um transtorno na vontade do individuo. O primeiro a designar o termo de dependência da internet foi Ivan Goldberg em 1996, para definir como uma categoria diagnosticada, caracterizada por um uso compulsivo e patológico da internet. De acordo com dados reportados no artigo “os riscos do excesso de exposição ao mundo virtual”, 10% da população atual de internautas já desenvolveu dependência (GÓES, 2009). 
 O Brasil é destaque, de acordo com o referido artigo, o número de acessos e o tempo gasto pela população brasileira é maior no mundo em conexões domésticas, ficando na frente inclusive dos americanos e japoneses. Os impactos psicossociais relacionados ao uso excessivo da internet vinculam-se muito mais às dificuldades nas relações interpessoais, à diminuição das atividades sociais e à solidão do que propriamente dito ao uso do computador. Por acabarem trocando sua “vida real” pela “vida digital”, muitas pessoas acabam se tornando vítimas dessa dependência ou vício que a internet vem causando, pelo seu uso de uma forma exacerbada. Assim tendo em vista que muitas vezes nos tornamos dependentes de qualquer coisa feita de uma forma frequente e compulsiva.


Referências Bibliográficas:
 Barbetta, A.P. Estatística aplicada às ciências sociais. Florianópolis: UFSC, 2001.

 BOSSE, Y. RESENDE, E. C, SILVA. G. R., SATO, TEIXEIRA, L. A., PEREIRA, M. A.,         FREITAS, M. f. redes sociais - Prós e contras. Revista Eletrônica de Iniciação Cientifica: Gestão Sustentável e negócios- v.1, ano 1, p. 61-68, jan/Jul,2011.

Conti, m. a., JARDIM, A. P, hearst, NORMAN. cordás, T. a, tavares, h., abreu. avaliação da equivalência semântica e consistência interna de uma versão em português do Internet Addiction Test (IAT). Rev.Psiq.Clin. v.39,n.3, p.106-110, 2012.

MONTEIRO, S.D. O ciberespaço: o termo, a definição e o conceito. Data Grama Zero, Revista de Ciência da Informação, v.8, n.3, 2007.

moraes, g. t. b., pilatti, l. a., scandelari, l., Dependência de internet: Pesquisas mostram que a internet pode causar dependência. CEFET-PG, 2004.

PINHEIRO, S. F. G. A internet na sociedade. Departamento de engenharia Informática, Universidade de Coimbra, Portugal. 2002.

RAMAL, A.C. educação na cibercultura: hipertextualidade, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.

recuero, r. C. Comunidades em Redes Sociais na internet: Proposta de tipologia baseada no Fotolog.com. Tese de Doutorado. Porto Alegre, 2006.

schelp, Diogo. Nos laços (fracos) da internet. Revista Veja, edição 2120 de 8 de julho de 2009. Disponível em: < htpp://www. veja.abril.com.br/ . Acessado em abril de 2015, as 20h00min.

Tait, T. F. C. Evolução da Internet: do início secreto à explosão mundial. Informativo PET Informática, 2007.


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