A PSICOLOGIA HOSPITALAR NO BRASIL


A história da Psicologia Hospitalar remonta a 1818, quando no Hospital McLean, em Massachussets, formou-se a primeira equipe multiprofissional que incluía o Psicólogo. Nesse mesmo hospital foi fundado, em 1904, um laboratório de Psicologia onde foram desenvolvidas pesquisas pioneiras sobre a Psicologia Hospitalar.
No Brasil, os primeiros serviços de Higiene Mental foram fundados na década de 30, como propostas alternativas à internação Psiquiátrica e o Psicólogo inaugura junto à Psiquiatria, seu exercício profissional na instituição de saúde. Os relatos de inserção do psicólogo em hospitais começam na década de 50, com Matilde Neder instalando um Serviço de Psicologia Hospitalar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. 
Matilde Neder, ao ser convidada para o trabalho, procurou fazer uma adaptação técnica de seu instrumental teórico, acoplando-o à realidade institucional. Houve então a criação de modelos teóricos de atendimentos que visavam agilizar esses atendimentos afim de torná-los adequados à realidade hospitalar.
Na década de 70, Bellkiss Wilma Romano Lamosa é convidada para implantação do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Na ocasião, Bellkiss já havia atuado em diversas unidades do Hospital das Clínicas da USP, mas ao assumir esta responsabilidade, estava sedimentando a atividade e cravando seu nome no percurso e história da mesma. O primeiro curso de Psicologia Hospitalar do país foi oferecido pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em 1976, sob-responsabilidade de Bellkiss W.R. Lamosa.
Em 1979, Regina D’Aquino cria, em Brasília, um trabalho junto a pacientes terminais, tornando-se um dos grandes marcos da atuação frente à morte e suas implicações. No mesmo ano, Wilma C. Torres inicia, como coordenadora, o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia da Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. Em 1981 o Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo oferece o primeiro curso de Especialização em Psicologia Hospitalar, sob a responsabilidade de Valdemar Augusto Angerami-Camon. Marli Rosani Meleti normatiza, em 1982, após anos de atividades, o Setor de Psicologia do Serviço de Oncologia Ginecológica da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de Beneficência.
No mesmo ano, Heloisa Benevides Carvalho Chiattone implanta o Setor de Psicologia do Serviço de Pediatria do Hospital Brigadeiro em São Paulo. O Primeiro Encontro Nacional de Psicólogos da Área Hospitalar foi promovido pelo Serviço de Psicologia do Hospital das Clínicas da USP em 1983, sob-responsabilidade geral de Bellkiss W.R. Lamosa. Este foi o primeiro evento de âmbito nacional a reunir os diversos Psicólogos que atuavam de maneira dispersa pelos mais diferentes pontos do país.
Durante muito tempo, a Psicologia Hospitalar utilizou-se de recursos técnicos e metodológicos de outras áreas do saber psicológico, que nem sempre se mostraram adequados ao contexto hospitalar. A inexistência de um paradigma claro que pudesse definir estratégias dificultou a oportunidade de legitimação do espaço psicológico nas instituições de saúde. A partir da pluralidade evidenciada no exercício da psicologia no contexto hospitalar, iniciou-se um direcionamento de pesquisas e publicações a respeito dessas práticas a fim de se fortalecer a identidade do profissional dessa área.
 A fundação da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH), em 1997, vem fortalecendo a área no cenário brasileiro. A sociedade tem por objetivo ampliar o campo de conhecimento científico e promover cada vez mais o profissional que se dedica a este campo. Desde o ano 2000, a Psicologia Hospitalar foi reconhecida como uma especialidade pelo Conselho Federal de Psicologia.

Atuação do psicólogo no contexto hospitalar

             O trabalho do psicólogo em hospital geral deve ser respaldado por formação adequada para a atuação institucional. Na clínica o paciente busca o apoio do psicólogo, enquanto no hospital esse apoio é oferecido pelo profissional; a clínica possui um ambiente que propicia uma sessão sem interrupções, enquanto no hospital o psicólogo deve lidar com interrupções constantes ocasionadas pela equipe, visitas, condições físicas, entre outras; na clínica o psicólogo não presta conta do paciente para outro profissional, no hospital o psicólogo deve prestar conta à equipe multiprofissional sobre o seu paciente de forma ética. A diferença da atuação clínica para a institucional e a que o psicólogo deve buscar técnicas de diagnóstico e de atuação mais específicas, mas sem perder a qualidade.
            É possível ao psicólogo, inserido no hospital, fazer intervenções psicoterapêuticas em ambientes diversos, como um corredor, pois podem ser nesses momentos que o paciente ou familiar mais precisem de apoio psicológico devido a alguma informação sobre diagnóstico ou notícia de óbito. O psicólogo no hospital possui um campo de atuação diversificado e o setting pode variar conforme a necessidade do paciente ou família.
           No hospital o psicólogo pode intervir em pacientes, em familiares e na equipe. O psicólogo deve conhecer as necessidades particulares de cada cliente, ajudando este a se integrar com a própria doença e com a situação em que se encontra. Ele deve, ainda, estar atento à relação entre equipe e paciente a fim de facilitar o diálogo, o que pode ser benéfico para as duas partes. O psicólogo deve possuir atitudes psicopedagógicas e psicoprofiláticas, orientando tanto o paciente quanto a família.
            Processos como “despersonalização” interferem significativamente no modo de atuação do psicólogo em instituições hospitalares. O paciente no hospital passa a ser chamado pelo número do leito ou pelo nome da doença, passa a ser submetido a intervenções invasivas a qualquer hora, alimenta-se de formas padronizadas, entre outras situações que fazem com que o paciente perca alguns referenciais do cotidiano, causando angústia no paciente. Nesse sentido, uma das principais funções do psicólogo no hospital é fornecer à equipe orientações sobre esse processo de “despersonalização”, para que o trabalho com o paciente possa se realizar da melhor forma possível. Essa orientação da equipe deve buscar o envolvimento de todos os membros para que possa haver uma mudança substancial no atendimento.
           O paciente no hospital possui uma série de mudanças que o deixam desconfortáveis. O simples fato de estar internado significa que sua saúde está em maior ou menor grau debilitada. O paciente tem privação de reforçadores positivos e está diante de uma série de estímulos ansiogênicos. Nesse sentido o psicólogo deve fazer uma investigação para entender as contingências anteriores à patologia, verificar a relação entre paciente e equipe, fatores cognitivos, comportamentais e emocionais alterados a partir da doença, dificuldades do paciente em relação aos procedimentos e identificação da rede de apoio social.
           A família tem um papel importante no tratamento do paciente hospitalizado podendo assumir uma atitude colaborativa ou opositora. Faz-se portanto necessário um trabalho voltado para os familiares, principalmente para familiares de pacientes internados em UTI. A família possui um papel importantíssimo para a adaptação do paciente às dificuldades da vida, podendo colaborar com o trabalho da equipe de saúde. Mas eles ressaltam que a família também sofre com o paciente, assim uma das funções do psicólogo é auxiliar a família no entendimento da crise e da doença e a buscar respostas adaptativas.
           O trabalho interdisciplinar é importante e requerido aos profissionais. As diversas informações de diferentes áreas de conhecimento exigem uma busca de integração de conhecimento dessas áreas pelos profissionais que atuam na saúde. A comunicação entre os membros das diferentes equipes deve ser estabelecida e fortalecida. Existem três tipos de comunicação na equipe: o primeiro é a comunicação simplesmente como instrumentalização da técnica; o segundo é a comunicação estritamente pessoal; e o terceiro é a comunicação em linguagens, objetivos, propostas ou culturas semelhantes, onde se busca uma proposta de assistência comum a essas áreas, embora elas sejam diferentes no seu modo de atuação.  A formação médica é deficiente quanto à qualidade da relação com o paciente. Busca-se cada vez mais uma especialização e um olhar objetivo para se chegar ao diagnóstico correto com a preocupação exacerbada sobre métodos de entrevista e diagnóstico. Acaba-se esquecendo de escutar o paciente em outras questões pertinentes.

 Bibliográfica Consultada:

ALMEIDA, R. A. Historia da Psicologia Hospitalar no Brasil. Disponível em:
<http://psicoterapiaepsicologia.webnode.com.br/products/historico-da-psicologia-hospitalar/>.Acesso em 20/10/2014. 

ARAUJO, M. Atuação do Psicólogo no Contexto Hospitalar. Disponível em:<http://www.psicologomauricio.com/news/atua>. Acessado em 24/10/2014.

Lazzaretti, C. T. Manual de Psicologia Hospitalar/ Coletânea PSI - Serie Técnica. Curitiba: Unificado. 68p. 2007. 


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