CIDADANIA NO BRASIL
Cidadania
no Brasil: EXERCÍCIO DE DIREITOS e deveres
Valdir Almeida da Costa
Falar sobre cidadania,
direitos e deveres são temas que muitos brasileiros dizem conhecer de todos os
meios e formas. Mas no dia a dia não é o que se vê nesse tão famoso discurso de
“ser cidadão” falado por todos. Fatos como discriminação, desrespeito as leis,
a corrupção, a falta de ética são comuns na sociedade brasileira, contradizendo
o conceito e o discurso de tantos brasileiros sobre a cidadania.
Ser cidadão significa ser
súdito e soberano, conforme a situação descrita na carta de Direitos da
Organização das Nações Unidas (ONU), de 1948. Este documento teve suas
primeiras referências marcantes nas cartas de Direito dos Estados Unidos (1776)
e da Revolução Francesa (1798). Possui como proposta de cidadania a de que
todos os homens são iguais perante a lei, sem descriminação de raça, credo e
cor. Prega que a todos cabe o domínio sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um
salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde,
à habitação, ao lazer.
E também estabelece que seja
direito de todos poderem expressar-se de forma livre, como também exercer
militância em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos sociais e
lutar por seus valores. Enfim, a cidadania pode ser resumida como o direito do
homem de ter uma vida digna (COVRE, 1998). Este trabalho tentará mostrar a
importância de se conhecer melhor as pequenas palavras: cidadania, direitos e
deveres. Para tanto se propõe conhecer historicamente o conceito e a construção
desses valores.
Remonta à Grécia antiga a
concepção de cidadania enquanto direito assegurado ao cidadão (politikos) de participar ativamente de
qualquer reunião (ekklesia) realizada
em praça pública (ágora), visando à
tomada de decisões de interesse da cidade (pólis).
Nesse contexto, a cidadania assume caráter instrumental em relação à democracia
(democracia “seletiva”, que excluía a participação de mulheres, escravos e
outros não cidadãos) (GARCIA, 2011).
Conforme a Dallari (2004), a palavra cidadania foi usada na Roma antiga
para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa tinha ou
podia exercer, sendo que a sociedade romana fazia discriminações e separava as
pessoas em classes sociais. Entre os próprios romanos existia uma distinção que
somente os romanos livres tinham cidadania. No direito romano,a exemplo do grego, a
cidadania, durante a República, era reconhecida desde o nascimento, com uma só
condição de que o pai fosse romano, ainda que a mãe não fosse cidadã.
Em Roma a cidadania era
dividida em “cidadania e cidadania ativa”, por esta forma de divisão somente os
“cidadãos ativos” podiam ocupar postos da administração e de participar das
atividades políticas. Nesta realidade, mulheres não possuíam cidadania ativa,
por isso elas não ocuparam lugar no Senado e nem nas magistraturas romanas.
Na Europa no começo dos
tempos modernos, também havia a divisão da sociedade em classes, o que lembrava
a divisão social romana. A nobreza possuía grandes privilégios ao lado das
pessoas comuns, ou seja, os não nobres. Entre os comuns havia os burgueses, que eram os ricos, e os outros comuns,
não burgueses, eram pobres, geralmente trabalhavam no campo e na cidade.
É na fase histórica do
Absolutismo, onde os reis exerciam seu poder sem nenhuma limitação e controle.
Devido aos excessos e arbitrariedades do absolutismo e do interesse da classe
rica emergente, os burgueses, era muito interessante que os nobres perdessem
seu poder, ou ao menos fosse este limitado de modo que não atrapalhasse os
burgueses. Começa aí as chamadas revoluções
burguesas ocorridas na Inglaterra, em 1688 e na França, em 1789, a
Revolução Francesa.
Em 1791 os líderes da
Revolução Francesa aprovaram a primeira Constituição Francesa, estabelecendo aí
as regras que deformavam completamente a ideia de cidadania. Mantiveram a
monarquia hereditária, que privilegiava somente uma família. Recuperaram a
antiga diferenciação dos romanos de “cidadania e cidadania ativa”,
estabelecendo que para ter participação na vida política, votando e recebendo
mandato, ocupando cargos elevados na Administração Pública, era necessário ser
“cidadão ativo”, não bastando somente ser cidadão.
Era considerado “cidadão ativo” o cidadão francês, do sexo masculino,
que não era empregado, que pagasse uma contribuição equivalente a três
jornadas, devendo o legislativo a fixar o valor da jornada, além de estar
inscrito na municipalidade de seu domicilio como integrante da guarda municipal.
As mulheres, os trabalhadores, as camadas mais pobres da sociedade foram excluídos da cidadania
ativa, tendo então que iniciar uma nova luta, desde o começo do séc.XIX, para
assim, finalmente, obterem direitos de cidadania (DALLARI, 2004).
Desde a Grécia antiga todos seguem o mesmo modelo básico
de cidadania sendo eles “direitos
assegurados, o poder de participar ativamente de qualquer reunião em praça
pública, visando tomar decisões de interesse da cidade”, o que se vê quando
esses movimentos acontecem, são cidadãos que procuram
exercer os seus direitos civis. Já no Brasil a questão dos direitos parece
nunca ter sido tão atual, entre a população e os meios de comunicação, escrito,
falado e televisivo não se esquecendo da internet, que vem a ser na atualidade
o meio, mais rápido de propagação de uma noticia entre o mundo inteiro.
Dentro do contexto histórico brasileiro, não se pode
esquecer os direitos sociais, e as principais inovações e conquistas trazidas
pela Constituição Brasileira Federal de 1988, que foi chamada de “constituição
cidadã”. Argumenta-se que, para a construção da cidadania, é necessário
abandonar o “velho modelo” de representação política, para finalmente as
pessoas serem inseridas na discussão do poder, ou seja, para que assim, haja a
democratização do poder.
No Brasil com o
surgimento de vários movimentos e manifestações de pessoas comuns, não
organizados, fazem ressurgir entre nós as novas “ágoras”, visando á tomada de decisões de interesse da cidade “pólis”. Os novos cidadãos de diversas
camadas sociais se reuniram nas novas “ágoras”, por diversos motivos do mais
simples ao maior. As gigantes manifestações que surgiram e deram ao Brasil uma
nova fisionomia sociocultural, de forma similar
ao que aconteceu em outros países do mundo, não sendo propriamente uma
novidade, mas uma consequência da globalização.
Os novos cidadãos cansados desse modelo de democracia surgem e crescem à
margem de partidos políticos e sindicatos, reivindicando mudanças nos costumes
políticos e nas estruturas de governo. Cansados das variadas formas de
corrupção, do peculato ao clientelismo; das alianças fisiológicas ao nepotismo;
das mordomias legais e ilegais à sem-vergonhice do empreguismo partidário; das
licitações com cartas marcadas aos gastos imorais com luxos, prazeres e
ostentação; em palácios, banquetes e viagens oficiais; das fraudes orçamentárias aos gastos milionários com a enganação da
propaganda institucional; do desperdício obrado pela incompetência desonesta ao
uso eleitoral do dinheiro público, o povo, a população acordou da passividade
que se encontrava e se tornou ativo de novo no processo democrático. E porque
muito se rouba e mal se governa, falta dinheiro para a educação, a saúde, os
transportes, a cultura, o lazer, a pesquisa cientifica, a segurança, a proteção
ambiental, dentre outros (CHAPARRO, 2013).
Espera-se que a população retomada de seu fôlego
democrático não se deixe aprisionar em uma falsa liberdade, onde a nova
burguesia dita às regras e manobra ao seu bem querer a opinião pública, através
da mídia. A população através da educação voltada para a formação de cidadãos
críticos e participativos possuem os instrumentos necessários para continuar
reivindicando seus direitos, exercendo seus deveres e vivenciando sua
verdadeira liberdade, onde os ideais liberais e os direitos dos cidadãos serão
respeitados.
Conclui-se que exercer a cidadania, perpassa pelo
exercício diário de se refletir sobre quem somos, onde estamos qual a nossa
contribuição para a humanidade e o que queremos para o futuro. Assim, pode-se
resgatar e vivenciar o verdadeiro conceito de cidadania criado pelos gregos e
praticado pelos franceses durante a revolução francesa, cujo lema: Liberdade,
Fraternidade e Igualdade continuam sendo o lema que referencia a democracia e o
exercício de cidadania. Para que esta a cidadania seja possível e real no
Brasil, precisa-se continuar investindo em uma educação transformadora (Freire,
2004) que permita que os cidadãos possam saber e se posicionar em relação aos
seus direitos e conhecer e vivenciar seus deveres.
Referencia bibliográfica:
CHAPARRO, C. Nas manifestações de rua e nos fluxos da rede: a
vitória do poder da noticia. 2013 Disponível em< http//www.oxisdaquestão. com.
br/ admin/arquivos/artigos>.acessado em 15/11/2013 ás 15:00 horas.
COVRE, MARIA DE LOURDES MANZINI. O que é cidadania: coleção
primeiros passos. 3. Ed. São Paulo, Brasiliense, 1998.
dallari, dalmo de abreu. Direitos Humanos e Cidadania. 2. Ed. São Paulo. Moderna, 2004.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. Adotada
e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das Nações
Unidas em 10 de dezembro de 1948.
FREIRE, P. Pedagogia da
Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 29º Ed. São Paulo: Paz na
Terra, 2004.
GARCIA, E. Cidadania e estado de direito: breves reflexões
sobre o caso brasileiro. Revista da EMERJ, v.14, n.53,2011.
Comentários
Postar um comentário